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Bruno Gonçalves
Vice-Presidente da Letras Nómadas AIDCC
No dia 11 de março, o país acordou cinzento. Um cheiro nauseabundo pairava no ar. No ano em que a revolução de 25 de abril faz 50 anos, com um simples ‘x’ no boletim de voto, um milhão e cem mil pessoas deixaram cair por terra o que há muito já se sabia: Portugal nunca foi um país de brando costumes, é sim um país estruturalmente racista e xenófobo. A herança colonial e anti ciganismo de 500 anos falaram mais alto.
Quem diria que, num país onde várias gerações de portugueses se queixavam do fascismo e onde três pessoas comiam uma sardinha, se voltaria a apoiar um partido declaradamente fascista, racista e xenófobo!? Isto é o mesmo que o porco que, depois de lavado, rapidamente volta para o lamaçal…
No rescaldo da noite eleitoral, percebendo que alguns dos eleitores do PS – que constatamos que nunca foram socialistas – trocaram o voto socialista por um voto no Chega, Pedro Nuno Santos disse não acreditar que haja um milhão de cem mil portugueses racistas em Portugal. Este é o problema de políticos como Pedro Nuno Santos neste país: varrer para debaixo do tapete o flagelo do racismo estrutural nesta sociedade. Fingir que não há racismo dá uma oportunidade aos fascistas e racistas deste país, para disseminarem livremente a sua ideologia de superioridade racial. Não se pode esquecer que Portugal, até há algumas décadas, tinha altos níveis de analfabetismo, fruto da ditadura. A literacia política é outro enorme problema, como se viu na noite de 10 de março.
Algumas pessoas de esquerda e alguns académicos dizem ser ridículo acusar os votantes do CH de serem todos racistas e xenófobos. Dizem que há muitos votos de protesto. Curioso é que havia outros partidos em quem votar para manifestarem assim o ressentimento. E não o fizeram. Preferiram o CH… É só fazer uma análise política por distrito e por concelho para constatar que, onde o CH cresceu ou até ganhou as eleições, nas regiões ou locais onde há muita imigração indostânica ou mesmo a presença de comunidades ciganas…
Nem as mentiras do líder da extrema-direita portuguesa demoveram eleitores. Ele mentia a toda a hora. O ódio prevaleceu como o maior combustível para o voto no partido da extrema-direita.
A sociedade e as instituições falharam. Perdoem-me os meus amigos professores de história, mas a revolução do 25 de abril devia ter sido lecionada exaustivamente nas escolas e não foi! Os fascistas não morreram em 1974, só se silenciaram e foram criando raízes.
Resta dar os “parabéns” a uma parte da comunicação social que levou ao colo o líder da extrema-direita. Sim, quem dá palco a um cidadão que tem posições antidemocráticas é pior do que ele…
É tempo de reflexão. É tempo de luta!
Resistiremos! Não passarão mais!