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A política e o aproveitamento cínico

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Afonso Fonseca

Português cigano licenciado em Ciência Política pela UAB


Acontece um pouco por toda a Europa partidos de extrema direita ganharem cada vez mais espaço político. Nos Países Baixos, o vencedor foi um partido com discursos xenófobos e anti-imigração. Na Itália e em outros países, são o segundo ou o terceiro maior partido, comoacontece em Portugal. Então o que fazem muitos partidos tradicionais? Resolvem ser um pouco xenófobos, um pouco racistas ou um pouco homofóbicos. Segundo as cabeças brilhantes dos mesmos, visam buscar parte do eleitorado à extrema direita. Em alguns casos,

não acredito que seja tacticismo político; há, obviamente, uma certa xenofobia ou racismo.


Passos Coelho, quando discursou no Algarve, associando imigração à insegurança, já o tinha feito antes mesmo da existência do Chega. Aliás, apoiou o Ventura depois deste ter proferido diversas vezes um discurso racista. Mas, na verdade, o objetivo de roubar eleitorado à extrema direita usando este recurso não tem servido de nada, como vemos nestas últimas eleições por cá. Na Europa, os resultados são os mesmos. No fim das contas, são os partidos tradicionais de direita que se extremam e não são nunca a extrema direita que se modera ou perde eleitores. Além de legitimar os discursos de ódio, que são violentos para quem é alvo. Não sou condescendente com quem vota na extrema direita; não merecem e esta condescendência só é uma forma de justificar os seus pensamentos. No entanto, em vez de adotarem o discurso dos partidos iguais ao do Chega, é muito melhor cuidar da vida dessas pessoas. O Algarve, muito antes de Lisboa, vive uma crise habitacional há décadas. Os lisboetas, portuenses ou de outra região compram casas no Algarve para passarem 15 dias no verão. No resto do ano, estão fechadas ou num período do verão arrendam a mil euros por semana. Os algarvios, por sua vez, não têm como conseguir uma casa para viver. Das duas uma: as rendas são exageradamente caras ou grande parte vai para o alojamento local. As pessoas são pragmáticas; se virem que têm qualidade de vida, não vão querer aventurar-se por partidos com promessas antissistema.

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